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Dia Nacional da Botânica: conheça as plantas aquáticas do Pantanal

Você sabia que hoje é comemorado o Dia Nacional da Botânica? A data promove uma reflexão sobre a importância das espécies vegetais brasileiras, além da valorização dos profissionais atuantes na área.

Por sua rica biodiversidade vegetal, o Pantanal tem tudo a ver com essa data. Ele apresenta diversos tipos de plantas terrestres e aquáticas, gramíneas, arbustos, árvores de pequeno, médio e grande porte, que totalizam cerca de 3.500 espécies diferentes. É um verdadeiro paraíso natural.

Como você já bem sabe, o bioma é considerado a maior planície alagada do mundo. Por isso, decidimos aproveitar o dia especial para explorar uma vertente mais compatível com seu perfil úmido: as espécies aquáticas.

Comunidade de plantas aquáticas em lagos do Pantanal. (Foto: Edna Dias)

Conversando com uma especialista 

Para falar sobre o assunto com propriedade, entrevistamos a bióloga Edna Scremin-Dias, que possui mestrado e doutorado em botânica. Ela trabalha com plantas aquáticas desde a década de 90 e desenvolve projetos incríveis na área, especialmente nas regiões pantaneiras! A doutora falou sobre as espécies típicas e/ou endêmicas do Pantanal, sobre sua importância ecológica e outros temas muito interessantes. 

Edna Scremin-Dias em coleta no Pantanal com alunas de graduação e pós graduação. (Foto: Arquivo pessoal)

Hoje, Edna trabalha com Anatomia Ecológica e Conservação de Plantas Aquáticas. No geral, avalia a história natural das espécies aquáticas em diversos ambientes sazonais do Pantanal, qualificando e quantificando as alterações dos órgãos das plantas. As variações são resultado do excesso e/ou da falta de água sobre a estrutura de suas raízes, caules, folhas e flores, ao longo de ciclos de cheia e seca no bioma.

A importância ecológica de espécies aquáticas

Abrigo para seres vivos: segundo a bióloga, “As plantas aquáticas desempenham importante papel estrutural e funcional no ecossistema e na cadeia trófica dos ambientes aquáticos. Elas contribuem para a ciclagem de nutrientes em ambientes aquáticos, além de fornecer locais de abrigo, alimentação e reprodução para invertebrados e vertebrados aquáticos.”

 Proteção para as margens: a vegetação presente na água também fornece proteção de margens dos cursos d’água contra assoreamento, pois aumenta a estabilidade da região litorânea e, em alguns casos, auxilia na retenção de nutrientes e poluentes, filtrando e retendo partículas em suspensão.

Filtrando impurezas:  as plantas aquáticas ainda são eficazes em fazer a depuração da água devido à retenção de nutrientes e de sedimentos em suspensão. Dessa forma, se fazem úteis, inclusive, no tratamento de águas que recebem esgotamento sanitário. 

São fontes de remédio: Muitas espécies podem ser usadas na medicina popular,  como por exemplo o Echinodorus spp. (Chapéu de coro – como diurético) e de Polygonum spp. (erva de bicho utilizado para vários fins), além de serem utilizadas na confecção de artesanato, como é o caso de Eichhornia crassipes (aguapé utilizado por artesãos pantaneiros).

Principais espécies presentes no Pantanal 

O Pantanal possui 324 espécies de plantas aquáticas. Dentre elas está a famosa Vitória-régia – Vitoria amazônica (Popp.) Sowerby – que ocorre apenas no Rio Paraguai com limite de distribuição no município de Corumbá – MS.

Flor da Vitoria amazonica (Foto: Prof Paulo Robson de Souza/UFMS)

Dentre as espécies presentes no Pantanal, algumas se destacam por suas características interessantes. O gênero Utricularia spp., por exemplo, é composto por espécies submersas que apresentam folhas submersas recortadas com “utrículos” – semelhantes à “bolsinhas” – que capturam e digerem larvas aquáticas. Estas espécies lançam suas flores fora da água e são muito belas. 

Folhas submersas com utrículos. (Foto: Prof Paulo Robson de Souza/UFMS)

Também os gêneros de Echinodorus spp., Ludwigia spp., Polygonum spp., Aeschynomene spp., Cyperus spp., Eleocharis spp. e Bacopa spp., que são os mais abundantes no Pantanal. Suas espécies anfíbias (podem se desenvolver e florescer dentro da água na cheia e fora dela durante parte do período de seca), adaptam-se perfeitamente ao bioma. Muitas das espécies destes gêneros têm grande potencial ornamental e podem ser utilizados em paisagismo, por exemplo.

Nova espécie nomeada com Edna Scremin-Dias

De acordo com Edna, “Para um botânico é uma grande honra receber esta homenagem. E alguns amigos botânicos me homenagearam com o epíteto específico de um líquen Parmotrema screminiae (Parmeliaceae), inserindo meu sobrenome na nomenclatura desta espécie nova. 

Não é uma planta aquática (meu principal objeto de estudo) mas a agora denominada Parmotrema screminiae Spielmann & Canêz é um líquen com potente atividade antimicrobiana, encontrada em terras sul-mato-grossenses.

Qual a relevância de celebrarmos o Dia Nacional da Botânica?

A data 17 de abril, instituída como o Dia Nacional da Botânica (Decreto de Lei nº 1.147), homenageia os 200 anos do nascimento do naturalista alemão Carl von Martius. A homenagem feita a este naturalista, que viajou por três anos pelo Brasil e percorreu mais de 10.000 km coletando muitos representantes da flora brasileira, é de extrema relevância para o país. 

Ele foi o primeiro “botânico” a catalogar espécies brasileiras descritas e que integram a importantíssima obra FLORA BRASILIENSIS. Assim, a homenagem ao Martius foi muito adequada pois ele representa plenamente todos os botânicos. 

As pesquisas científicas, categorizadas em áreas específicas com anatomia de plantas, fisiologia, taxonomia, biologia da reprodução, farmacobotânica, ecologia vegetal entre outras, foram intensificadas apenas em meados do século passado. Assim, instituir em 1994 o Dia Nacional da Botânica valorizou a atuação destes profissionais que tanto contribuem para o conhecimento das espécies e para a preservação da natureza.

“Por vezes, nós botânicos somos interpretados como profissionais que querem impedir o progresso, indo contra os interesses econômicos por nos opormos à exploração de áreas de relevante interesse ecológico. Os botânicos, além de contribuírem com a melhoria da produtividade das culturas de interesse econômico, também trabalham em prol dos interesses coletivos dando “voz às plantas”, reivindicando a sobrevivência e a preservação de ambientes e da biodiversidade como um todo.”, afirma Edna Scremin-Dias.

Enfim, o Dia Nacional da Botânica é uma data importante para despertar nas pessoas a consciência sobre o papel que as plantas desempenham na qualidade de vida do ser humano e do planeta. 

Edna Scremin-Dias durante uma coleta. (Foto: Arquivo pessoal)

Parabéns à Edna Scremin-Dias pelo brilhante trabalho desenvolvido no Pantanal e a todos os botânicos atuantes no Pantanal e no Brasil como um todo. Obrigado pelo esforço designado na conservação da nossa natureza.