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As queimadas de 2019 foram realmente mais devastadoras do que os outros anos?

Por 2 de outubro de 2019abril 14th, 2021Conservação, Meio Ambiente, Notícias, Pantanal, SOS Pantanal

Os resultados dos incêndios que atingiram o Pantanal no ano de 2019 pareceram, de longe, mais danosos do que os anos anteriores. Nas áreas às quais tivemos acesso, percebemos impactos profundos na fauna, flora e até mesmo nas fazendas da região, obrigando os moradores locais a tomar atitudes rápidas para salvar o que pudessem no auge da queimada.

Contudo, para ter certeza sobre o nível de devastação local, contamos com o auxílio de especialistas. Além dos mais de 200 brigadistas que ajudaram ativamente nos resgates e contenção do fogo em setembro, outros profissionais também foram à campo mapear e analisar os verdadeiros danos causados.

Trabalho de combate ao fogo no Pantanal. (Foto: Onçafari)

 

Em uma conversa exclusiva com o SOS Pantanal, Marcio Ferreira Yule, que é coordenador estadual do Prevfogo do Ibama, explicou melhor o cenário das queimadas ocorridas em 2019 se comparada aos anos anteriores. 

 

SOS Pantanal: Qual é o retrato da devastação causada pelo fogo no Pantanal?

Marcio Yule: Fogo nessa época do ano é de difícil controle. Aliado a isso temos grandes áreas no Pantanal onde o fogo não é utilizado há mais de quinze anos, acumulando material combustível para o incêndio florestal. Nessas ocasiões, quando os incêndios florestais atingem áreas com acúmulo de material, temos o que denominamos de fogo extremo, com queima total do combustível e uma devastação grande do bioma. 

 

SOS Pantanal: Na sua opinião, por que o Pantanal sofreu mais com os focos de queimada esse ano do que nos anos anteriores?

Marcio Yule: De 2007 para cá os dados estatísticos demonstram uma tendência de redução no número de focos de calor (curva descendente), conforme gráfico abaixo.

No entanto, a comparação somente com o ano de 2018 indica que 2019 está sendo pior, já que no ano anterior a situação foi tranquila. O comportamento do fogo tem vínculo com o material combustível, com o relevo e fundamentalmente com as condições climáticas. Se em 2018 houve uma boa distribuição de chuvas durante o ano todo, em 2019 algumas áreas do Pantanal sofreram com estiagem prolongada, prejudicando e ressecando a vegetação. Há uma previsão de chuvas abaixo da média para o mês de outubro ainda, o que sugere que os números totais de focos de calor no ano podem ficar bem próximos dos nossos períodos mais críticos.

 

SOS Pantanal: O estrago foi realmente maior se comparado aos outros anos ou está sendo mais divulgado pela mídia e recebendo maior atenção?

Marcio Yule: O incêndio florestal, por definição, é todo fogo sem controle que avança sobre qualquer forma de vegetação, podendo ser iniciado pelo homem (intencional ou acidental) ou por fonte natural (raios, por exemplo). Pelos números de focos de calor detectados, o ano de 2019 já é o pior dos últimos onze anos. Aliado a isso, a partir de 2010, o mês mais crítico em Mato Grosso do Sul passou a ser o mês de setembro, ultrapassando o período de agosto. Como se não bastasse, presenciamos incêndios florestais em áreas não manejadas, o que propiciou que, ao ser atingida pelo fogo, ficasse de difícil controle e combate.

 

SOS Pantanal: Qual é a primeira ação de uma pessoa ou entidade que perceber o início de um incêndio na mata? 

Marcio Yule: Buscar apoio de pessoas preparadas para a atividade de combate. No mundo todo, morrem inúmeras pessoas em razão dos incêndios florestais. É um fenômeno de risco e requer o emprego de pessoas capacitadas e equipadas. Em área particular, busque a ajuda no Corpo de Bombeiros Militar, por meio do número de telefone 193. Se a área for próxima de alguma brigada do IBAMA/Prevfogo, essa ajuda pode ser executada pelas brigadas do IBAMA em Corumbá e nas aldeias Limão Verde e Taunay Ipegue (Terenas), Alves de Barros e São João (Kadiweus).

 

SOS Pantanal: Existem medidas cabíveis para evitar tamanha destruição no futuro?

Marcio Yule: Existem medidas que, se adotadas, reduzem as possibilidades de que grandes incêndios florestais consumam, em períodos críticos, toda vegetação existente numa propriedade. Alguns tipos de vegetação, como Floresta Amazônica por exemplo, são sensíveis ao fogo e se atingidas, levam à degradação daquela floresta. Algumas espécies do cerrado são adaptadas e até dependentes do uso do fogo. A integração entre as técnicas de manejo do fogo (prevenção, preparação, combate e uso do fogo) com os aspectos culturais, socioeconômicos (Cultura do Fogo) e a ecologia do fogo é denominada Manejo Integrado do Fogo. Essa integração é fundamental para que as medidas tomadas possam evitar e/ou minimizar os prejuízos causados pelos incêndios florestais.

Cenas tristes dos grandes incêndios que atingiram o Pantanal em setembro. (Foto: Onçafari)

Então, com base em números, dados, registros e contando com a análise de especialistas, podemos afirmar que o Pantanal sofreu muito mais com as queimadas em 2019 do que nos anos anteriores. Inúmeras são as causas, tanto humanas quanto naturais, mas a verdade é que os esforços de conservação nunca se fizeram tão importantes. Existem medidas cabíveis para evitar tamanha destruição no futuro, e o SOS Pantanal avaliará cada uma delas para aplicar daqui pra frente.

Juntos, podemos ajudar a salvar o nosso bioma tão querido!